BARRAGEM FOI CONSTRUÍDA NO RIO PEQUENO PARA NÃO CONTAMINAR O MANANCIAL COM REJEITOS DE MINÉRIO – FOTO DIVULGAÇÃO
Indignado com a falta de ação da Fundação Renova e das empresas Samarco Mineração, Vale e BHP Billiton, que paralisaram as negociações indenizatórias dos impactados pela lama de rejeitos de minério de ferro da barragem de Fundão, em Mariana (MG), um produtor rural, que pediu para não ter o nome divulgado, lamentou o abandono dos acordos e classificou a atual realidade que vive – juntamente com a família – como uma nova pandemia na região do Baixo Rio Doce, no Norte do Estado.
“Nós, produtores rurais, sofremos com duas pandemias aqui na região. A do coronavírus, que já dura cerca de três meses, e a da lama tóxica que mais se parece com uma enfermidade epidêmica disseminada há quase cinco anos, e que a Fundação Renova se nega a tratar”, analisou.
Ele reforça ainda que os produtores atingidos pela lama tóxica permanecem sem receita e que já estão até perdendo o patrimônio por causa de dívidas de financiamentos rurais executadas pelos bancos”, lamentou.
Acrescenta também que trata-se de uma tragédia que tomou grandes dimensões de destruição e prejuízos milionários que se estendem há 54 meses. “Isso se compara a uma pandemia que se torna crônica pelo tempo em que ela vem sendo disseminada”, comparou.
O produtor rural lembra ainda que os prejuízos tornaram proporções gigantescas, após a enchente do Rio Doce ocorrida entre o final do ano de 2015 e janeiro de 2016, quando milhares de hectares de terras nas imediações da Bacia do manancial, entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, foram contaminados por camadas de rejeitos de minério de ferro, entre Mariana (MG) e a foz, em Regência/Povoação, no litoral de Linhares.
Naquela ocasião, o nível do Doce subiu rapidamente e águas invadiram propriedades rurais, comunidades ribeirinhas e até mesmo lagoas que possuem canais de ligação com o manancial, como por exemplo, a Lagoa Nova, em Linhares. O aumento repentino das águas, que teve início, principalmente, no dia 21 de janeiro de 2016, pegou de surpresa muitos produtores rurais que perderam pastagens, plantios de diversas variedades agrícolas, houve também correria para a transferência de animais bovinos para regiões mais altas, entre outros prejuízos ainda não indenizados pela Fundação Renova e as empresas que ela representa (Samarco Mineração, Vale e BHP Billiton).
A chegada da pluma com rejeitos de mineração da Samarco à região do Baixo Rio Doce ainda é considerada a maior tragédia ambiental do país e uma das maiores catástrofes do planeta. Ao atingir o manancial, já nas imediações de Linhares, a lama tóxica exigiu várias frentes de trabalho coletivo que integrou secretarias e autarquias da prefeitura, Sindicato Rural, entidades de classe, voluntários entre outras entidades que permaneceram em estado de prontidão e desempenhando diversas atividades para impedir que a tragédia se tornasse ainda mais danosa à região, mas com o avanço incontrolavel e rápido da enchente, não foi possível minimizar os impactos na cidade e na zona rural do municipio.
Naquela época, a prefeitura construiu uma barragem no Rio Pequeno, erguida para impedir que a lama de rejeito da Samarco atingisse o principal ponto de captação de água para o abastecimento da sede do município, obra que persiste até hoje e que ainda trás transtornos à sociedade.
Logo após a tragédia da vazão de toneladas de lama tóxica da barragem de Fundão, as chuvas no Espírito Santo e em Minas Gerais acabaram por mudar o cenário do Rio Doce na foz do manancial. Outro efeito dessa cheia foi o aumento da turbidez da água, devido à chegada de mais lama das barragens da Samarco, em Mariana (MG).
“Até o momento, sofremos com os reflexos destrutivos dessa tragédia que não tem como ser contornada e que poderia ser amenizada, caso a Fundação Renova não tivesse abandonado os impactados. A inércia dessas empresas é o que nos deixa ainda mais revoltados, já que as negociações estão paralisadas sem motivos para isso. Temos formas, como reuniões on line para dar continuidade a essas
negociações”, finalizou o produtor rural.