Prejuízos gigantescos no agronegócio do Baixo Rio Doce, devido à lama de rejeitos de mineiro de ferro da Samarco. Produtores rurais alegam que Fundação Renova fechou as portas dos escritórios após o início da pandemia e abandonou as negociações sobre indenizações – Foto Divulgação
Produtores rurais do Baixo Rio Doce, no Espírito Santo, onde mais de 20 mil hectares de pastagens e plantações, principalmente de cacau, foram afetadas pela pluma de rejeitos da Samarco, na enchente de 2016, exigem explicações da Fundação Renova sobre o fim das negociações e a falta de diálogo com os impactados pela lama tóxica que causou a maior tragédia ao longo de toda a bacia do manancial.
Alegam que após a pandemia provocada pela covid – 19, a Fundação Renova fechou as portas dos escritórios localizados em cidades como Linhares e Colatina, sem justificativas aos afetados encerrando, por esse período, os diálogos sobre os processos judiciais e demais procedimentos de verbas indenizatórias que poderiam amenizar os prejuízos financeiros milionários, além de danos ambientais incalculáveis e perdas sociais imensuráveis provocadas pelo desastre.
Lembram ainda que a enxurrada de metais pesados ao longo do leito do Rio Doce foi a responsável pela onda de prejuízos que afetou o segmento do agronegócio em Linhares e região, desde o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), no final do ano de 2015.
“A Samarco, através da Fundação Renova, tem ignorado ainda mais os prejuízos causados aos produtores rurais, desde o surgimento da pandemia do coronavírus, há cerca de três meses. Mas vale ressaltar que existem meios tecnológicos para dar continuidade às reuniões via videoconferência, com reuniões à distância, o que não justifica esse procedimento. É uma falta de respeito aos produtores”, lamentou um dos impactados que pediu para não ser identificado por temer represálias por parte da Fundação Renova.
Ele declarou ainda que a pandemia chegou ao país no início do ano, permitindo que governos estaduais e prefeituras decretassem “estado de calamidade pública” para aquisição de bens e serviços para combater a doença. Entretanto, lembrou que a tragédia do Rio Doce ocorreu há quatro anos e meio, sendo que a mesma medida não aconteceu por conta do desastre de Mariana, o que poderia amenizar os prejuízos dos impactados.
Ressaltou que, nesse caso, se o Estado e as prefeituras tivessem decretado “estado de emergência”, os financiamentos rurais poderiam ser prorrogados, alertando que, na ocasião da captação de recursos para custeio rural, os bens patrimoniais ficam como garantia de pagamento das dívidas, podendo essa fazendas, sítios, chácaras ou terrenos ribeirinhos irem a leilão para quitar dívidas junto às instituições financeiras.
Os produtores rurais lembram que, assim, não tiveram como prorrogar pagamentos, além de estarem há quase cinco anos sem nenhum incentivo dos governos estadual e municipal no sentido de criar meios para se manterem no agronegócio.
“Não são poucos os produtores rurais que já se desfizeram de alguns de seus bens. Bancos já executaram as dívidas de muitos deles que perderam as fazendas, veículos, apartamentos e a casa própria. Há riscos até de suicídios entre a classe. Há gente falando em dar fim à vida, pois tudo já perdeu sentido. Nós, produtores, estamos sendo heróis por suportar tanta pressão. Dessa forma, conforme a decisão da Renova em ignorar as nossas demandas, a pandemia vai ser a pá de cal para o segmento rural que perdeu tudo com a lama de minério da Samarco”, alertou.
Outro produtor rural que também preferiu não ter seu nome divulgado, ressalta que os prejuízos também são gigantescos para o segmento da pecuária, com as propriedades que foram invadidas pela enchente de 2016, assim como cerca de 100 cacauicultores, somente em Linhares, afetados diretamente pela pluma de rejeitos da Samarco.
“Há um grande descaso por parte da Fundação Renova que teria a missão de implementar e gerir os programas de reparação dos impactados do rompimento da barragem de Fundão, e esse diálogo foi interrompido abruptamente com a desculpa da pandemia. Agora, mais do que nunca, aguardamos um posicionamento da Samarco sobre o assunto, pois continuamos sem nenhum produtor rural ressarcido desses prejuízos”, lamentou o fazendeiro.
Os produtores rurais afirmam que um levantamento aponta que outros segmentos agrícolas também sofreram impactos diretos, sendo 300 hectares de plantação de banana, toda a cadeia produtiva de piscicultura da Lagoa Terra Alta, com 1,5 milhão de peixes mortos, além das propriedades que cultivam o cacau, uma das principais fontes da economia do município de Linhares.