Autor: José Carlos Leite
Um dos maiores empreendedores do agronegócio no Espírito Santo, o linharense Bruno Roza Pessoti, de 43 anos, demonstrou preocupação ao avaliar a atual situação do Brasil, em entrevista exclusiva ao Jornal Norte Capixaba Online, nesta semana. Para ele, o País vive hoje o pior momento sanitário, econômico e social desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, há exatamente um ano.
Bruno Pessoti é proprietário da Frutmel, empresa que atua no comércio e exportação de frutas e é responsável pela produção direta de café, mamão e coco verde em mais de 850 hectares cultivados, distribuídos em quatro municípios do Norte do Estado: Sooretama, Vila Valério, Linhares e Aracruz, onde emprega um total de 450 trabalhadores de forma direta.
Com sede e logística de distribuição próprias, instalada em uma área de 27 mil metros quadrados, às margens da rodovia BR-101, há quatro quilômetros do centro de Sooretama, a Frutmel atende ao mercado interno brasileiro e atualmente exporta 30% de sua produção de mamão, das variedades Papaya e Formosa, para os mercados europeu, norte-americano e asiático.
Embora o agronegócio seja nesse momento de crise o alicerce de sustentação da economia brasileira, impulsionado principalmente pelos produtos agrícolas que são commodities internacionais, cujos preços estão em alta em razão da maior valorização de moedas estrangeiras, como o Dólar e o Euro, Bruno Pessoti adverte que a situação no segmento também é delicada.
“Essa aparente valorização é ilusória, uma vez que só equipara a alta nos preços dos insumos, em proporção até maior que a dos produtos agrícolas. Só para citar alguns exemplos da nossa realidade local, o custo do adubo subiu 70%, o do diesel 25% e o da irrigação também em média de 70%. Além da elevação dos preços, também enfrentamos a escassez de muitos produtos. Quem precisar montar um sistema de irrigação hoje, por exemplo, terá que esperar no mínimo três meses pela entrega dos materiais”, explicou o empresário.
Bruno Pessoti teme que esses e outros fatores provoquem efeitos graves a curto e médio prazo, como a queda na produção agrícola e o consequente desabastecimento. “O cenário hoje não é motivador para que os produtores invistam na implantação de novos plantios ou de novos projetos de cultivo”, salientou.
No seu caso em participar, ele ressalta que tem buscado a diversificação de culturas como forma de superar a crise e as incertezas do mercado. “Além do café, do mamão e do coco verde, estamos preparando a implantação de plantios de pimenta-do-reino”, informou.
Sobre outros setores da economia brasileira, Bruno Pessoti observou a situação da indústria como ainda mais preocupante, em razão principalmente da falta de matéria-prima, como o aço e outros tipos de metais. “Mesmo que a economia volte a crescer em breve, teremos sérias dificuldades para atender a grande demanda de consumo. Faltará produto”, avalia.
A grande injeção de recursos por parte do Governo Federal, em socorro às pessoas e as empresas impactadas pela pandemia, na análise do empresário, “foi uma medida necessária para impedir o colapso econômico e social do país no ano de 2020, mas, por outro lado, aumentou a dívida pública brasileira a um patamar assustador”.
Avaliação política
Sobre a atual convulsão política vivida no Brasil, Bruno Pessoti manifestou preocupação somente com a postura do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF), que, segundo ele, comprometem a estabilidade e a confiabilidade do país. “Na Câmara dos Deputados, houve renovação e o nível dos novos parlamentares melhorou muito”, observou.
No âmbito local, o empresário disse estar satisfeito com as atuais gestões municipais de Guerino Zanon, em Linhares, e de Alessandro Broedel, em Sooretama. O que o incomoda, segundo ele, é a falta de graduação de grande parte dos ocupantes das Câmaras de Vereadores, não somente dos dois municípios, mas de todo o Brasil de maneira geral. “O vereador tem que ser eleito por sua qualificação e não por seu carisma. Isso tem que acabar. Como um cidadão vai fiscalizar as ações de um município se mal consegue controlar sua vida pessoal”, questionou Bruno Pessoti.