Morte do zagueiro Serginho, do São Caetano, completa 15 anos

Jogador morreu após sofrer uma parada cardíaca durante partida contra o São Paulo, no Morumbi, em 2004; relembre os desdobramentos do caso

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Serginho
Arquivo iG

Serginho-Por iG Esporte | Cleber Mattos

Há 15 anos, na noite de 27 de outubro de 2004, o futebol brasileiro enfrentava um de seus episódios mais tristes: a morte de Serginho, jogador do São Caetano. O zagueiro sofreu uma parada cardíaca durante uma partida contra o São Paulo, no Morumbi, foi socorrido, mas não resistiu e acabou falecendo no Hospital São Luiz, aos 30 anos de idade.

Nairo estava ao lado de Serginho no momento exato de sua morte e dá detalhes sobre aquela noite no hospital: “O Serginho acabou falecendo comigo ao lado dele. Os médicos estavam fazendo massagem cardíaca nele. Ele ia e voltava, ia e voltava, até que o médico olhou para mim e disse que não tinha mais o que fazer. Ele acabou morrendo de mãos dadas comigo. Tenho essa cena até hoje e me traz uma recordação muito ruim. Eu estava perdendo praticamente um filho ali”, lamentou.

10 anos sem Serginho: conterrâneos relembram convivência com zagueiro

Ex-companheiros de São Caetano, o zagueiro Thiago Martinelli e o meia Luiz Carlos Capixaba contam alguns

Para familiares, amigos, ex-companheiros, ex-adversários e amantes do futebol brasileiro em geral, neste dia 27 de outubro completa-se exatamente 10 anos de dor, sofrimento e muita saudade do ex-zagueiro Serginho, do São Caetano, que morreu após sofrer uma parada cardiorrespiratória em campo, no ano de 2004. Tentando remontar o cenário de antes, durante e depois dessa partida repentina e inesperada, dois ex-companheiros do atleta capixaba, que são conterrâneos dele, contaram alguns detalhes de como era a convivência e a rotina com Serginho: o zagueiro Thiago Martinelli e o ex-meia Luís Carlos Capixaba.

Os capixabas Thiago Martinelli, Serginho e Luiz Carlos Capixaba defenderam juntos o São Caetano em 2003 (Foto: Montagem sobre fotos de Richard Pinheiro e Nelson Almeida)Os jogadores capixabas Thiago Martinelli, Serginho e Luiz Carlos Capixaba defenderam juntos o São Caetano em 2003 (Foto: Montagem sobre fotos de Richard Pinheiro e Nelson Almeida)

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disputa sadia e admiração

thiago Martinelli são caetano x duque de caxias (Foto: Agência Estado)Thiago Martinelli teve duas passagens pelo São Caetano, a última em 2011 (Foto: Agência Estado)

Ainda em atividade, mas atualmente sem clube, o defensor Thiago Martinelli disputava posição na zaga do time do ABC paulista com o conterrâneo em 2004, com quem também dividia vários momentos fora de campo, inclusive os exames da pré-temporada. Mal sabia ele que aquele que fizeram juntos seria o último do companheiro.

– No início daquele ano, no mês de janeiro ou fevereiro, estava fazendo os exames periódicos de coração e por coincidência na vez que ele foi, eu fui também, junto com o Gilberto (lateral-esquerdo, Seleção Brasileira na Copa de 2006). Fomos fazer o exame lá no hospital, no recomeço de temporada. Inclusive o Serginho foi o primeiro a fazer e o Gilberto até brincou com ele: “Pô, Serginho, desse jeito você vai quebrar a esteira”. Porque ele estava bem fisicamente e treinando muito sério, até por isso o Gilberto brincou com ele. Depois, individualmente cada um falou com o médico e voltamos. Seguimos treinando normalmente e ele também.

A rotina de treinos fortes continuava, mas logo depois, a primeira interrupção do sonho de Serginho. Exames detectaram uma arritmia e o atleta, na época com 29 anos, foi impedido de continuar jogando, mas após um cateterismo, foi liberado. Com o começo do Brasileirão daquele ano, Thiago Martinelli já atuava como titular, mas uma lesão o obrigou a ver de casa, pela televisão, a morte do amigo.

– Ele nunca falou nada, nunca reclamou. Mas no período de abril ou maio ele teve que se submeter a um cateterismo e em junho ele parou de treinar, teve que ficar de três a quatro semanas sem treinar, afastado. Com isso acabei assumindo a vaga no time, porque a zaga era Dininho, Gustavo e Serginho, e eu era o primeiro reserva. Comecei a jogar como titular e só em agosto ele voltou a ser relacionado para os jogos. Todos estávamos curiosos para saber como ele estava, mas a única coisa que ele falou foi: “O doutor pediu para eu cortar a Coca-Cola”. Mas eu não sabia quais recomendações o médico passou pra ele, apenas isso e ele dizia que podia jogar numa boa. No final de setembro eu me machuquei, contra o Palmeiras e ele voltou ao time. Depois de dois jogos aconteceu o episódio no Morumbi. Eu estava em casa, em São Caetano, me assustei com aquilo, deu um desespero ao ver um companheiro caído no chão, um amigo, você fica preocupado. Pegou todos de surpresa e me perguntam até hoje se eu estava naquele jogo.

Thiago Martinelli tinha uma grande admiração por Serginho e sentiu muito a perda do amigo (Foto: Richard Pinheiro/GloboEsporte.com)Thiago Martinelli tinha uma grande admiração por Serginho e sentiu muito a perda do amigo (Foto: Richard Pinheiro/GloboEsporte.com)

Após 10 anos da morte de Serginho, o que fica para Thiago Martinelli são a saudade e a admiração. Ainda surgindo para o futebol brasileiro naquele ano de 2004, com apenas 24 anos, o zagueiro via no amigo e companheiro de posição um espelho para seguir evoluindo na profissão. Uma disputa sadia pela vaga de titular os unia ainda mais, dentro e fora de campo.

– Eu tinha uma amizade e uma convivência muito grande com o Serginho, porque além de ser capixaba igual a mim, eu era muito ligado à família dele. Eu estava sempre na casa dele e a gente procurava sair juntos. Foi uma pena aquilo ter acontecido, ainda mais com um cara que era espetacular, tanto como atleta quanto como pessoa. Eu o admirava e por ser um amigo próximo, eu senti bastante. De vez em quando a gente lembra de alguns episódios, foi muito triste.

Reencontro de conterrâneos

Luiz Carlos Capixaba jogou no São Caetano nos anos de 2002 e 2003 (Foto: Arquivo Pessoal)Luiz Carlos Capixaba jogou no São Caetano nos anos de 2002 e 2003 (Foto: Arquivo Pessoal)

Já aposentado, o ex-meia Luís Carlos Capixaba defendeu o São Caetano entre os anos de 2002 e 2003, e jogou com Serginho até menos de um ano daquele fatídico 27 de outubro. Chegando ao Azulão logo depois da derrota para o Olímpia, na decisão da Taça Libertadores, Capixaba revela que reencontrou um Serginho diferente do qual havia jogado junto nas categorias de base, no Espírito Santo.

– O Serginho era uma pessoa gente finíssima e bem simples. Joguei com ele em 2002, quando saí do Bahia e acertei com o São Caetano logo depois  Mas eu já conhecia o Serginho, porque quando éramos de categoria de base, jogamos no mesmo time, na Associação Banestes Vitória (ABV), eu sendo infantil e ele entre os mais novos, mas já chegamos a treinar juntos naquela época, quando ele jogava de volante ainda. Era totalmente diferente do atleta que encontrei no São Caetano. Era um jogador bem forte, malandro e esperto, daqueles que conhecia o futebol jogado na rua. Quando nos reencontramos, vi um cara mais quieto, calmo e tranquilo, um dos líderes do time. Todo mundo gostava dele. Agora dentro de campo, era bem diferente. Jogava duro, chegava junto, mas na bola, era um jogador leal.

Conhecido pela força física acima da média, Serginho recebia elogios dos companheiros de clube, que nunca iriam imaginar que alguém que parecia tão saudável pudesse ter um fim tão trágico. Na época da morte do atleta, Luiz Carlos Capixaba já não fazia mais parte do time do São Caetano e defendia o Coritiba. No banco de reservas, antes de entrar em campo, o jogador ficou sabendo do falecimento do ex-companheiro.

– Naquela época o salário nunca atrasava e a nossa preocupação era só em jogar futebol. O nosso grupo era como se fosse uma família. Não tinha muita pressão e torcida, só quando os times grandes iam jogar contra a gente lá no Anacleto Campanella. Além disso, o grupo tinha muita harmonia e com respeito. Eram muitos jogadores de qualidade e uma grande disputa em todas as posições, inclusive na zaga. Mas o Serginho, a gente ficava abismado com a força física dele e ele nunca reclamou de nada. Eu, particularmente, fiquei surpreso com a morte dele. Estava no Coritiba, jogando contra o Vasco, pelo Brasileiro. Tinha feito uma cirurgia de menisco e estava voltando exatamente naquele dia. Estava no banco e fui pro aquecimento. Aí um repórter veio me perguntar se eu havia jogado com o Serginho, quando respondi que sim, ele me informou que o Serginho tinha morrido. Aquilo foi um baque, porque a gente nunca esperaria que isso pudesse acontecer com ele.

Os dois jogadores atuaram juntos em vários jogos do São Caetano pelo Campeonato Brasileiro (Foto: Arquivo Pessoal)Os dois atletas atuaram juntos em vários jogos do São Caetano pelo Campeonato Brasileiro (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois de uma década do episódio com Serginho, Luiz Carlos Capixaba prefere ter na mente a imagem de um jogador forte, incentivador e que queria vitória acima de tudo, também para afastar a tristeza e a saudade do conterrâneo.

– Ele foi um dos primeiros no grupo, a torcida e o elenco gostavam muito dele. Dentro de campo, ele era a voz e o incentivo, ele falava assim: “Ali é o nosso prato de comida, temos que ganhar”. Tinha uma gana imensa de vencer os jogos. Fora de campo era bem quieto, mas quando entrava nos jogos, era aquela grande força. Eu prefiro ter a imagem dele bem, mas foi muito triste, pela pessoa que ele era.

Atualmente Thiago Martinelli está sem clube, mas já negocia para atuar em algum campeonato estadual pelo Brasil em 2015. Seu último time foi o Audax-SP e enquanto não acerta com alguma equipe, segue preparando o “pé de meia”, investindo em outros negócios fora do futebol, como uma franquia de óculos e perfumaria. Com a carreira encerrada desde 2011, Luiz Carlos Capixaba busca colocação dentro do mercado do futebol, como auxiliar técnico, após ter feito cursos de especialização na área. Os dois possuem residência fixa em Vitória, capital do Espírito Santo.

G1

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