O roteiro traz semelhanças coma disseminação do coronavírus, considerado pela Organização Mundial da Saúde como uma emergência de saúde pública de interessa internacional, com milhares de infecções na China e em 18 países.
“Contagion” (no original) foi dirigido por Steven Soderbergh, vencedor do Oscar por “Traffic”. Na trama, Beth Emhoff, interpretada por Gwyneth Paltrow, volta para sua casa, em Minneapolis (EUA), após uma viagem de negócios que fez a Hong Kong. Aparentando cansaço e enjoo, seu estado de saúde se agrava em poucas horas, e ela morre dois dias depois, após uma súbita convulsão.
Casos como o de Beth, então, começam a surgir em outras cidades espalhadas pelo planeta, como Londres, Tóquio e Paris. E enquanto a pandemia se alastra, cientistas e médicos tentam investigar o desconhecido vírus, e os cidadãos comuns passam a conviver com um pânico coletivo assustador.
Mas as semelhanças entre ficção e realidade não param por aí. Em determinado momento de “Contágio”, a médica Ally Hextall, papel de Jennifer Ehle, diz a seguinte frase: “Em algum lugar do mundo, o porco errado se encontrou com o morcego errado”. Estudos suspeitam que o coronavírus tenha se originado em morcegos e sido transmitido aos humanos por cobras.
Além da direção de Soderbergh, o longa conta com um elenco estelar: Matt Damon, Marion Cotillard, Laurence Fishburne, Jude Law e Kate Winslet. Com um orçamento de R$ 60 milhões, “Contágio” arrecadou R$ 75 milhões nos EUA, uma carreira discreta se levado em conta o currículo da equipe envolvida. Não recebeu indicações, nem faturou quaisquer prêmios de maior relevância.
No entanto, além da inusitada aparição entre os filmes mais procurados no iTunes esta semana, ele também apresenta uma curva de crescimento impressionante no Google. Nos últimos sete dias, a popularidade de “Contágio” nas buscas em todo o mundo passou de 32, no último dia 23, para 100, nesta quarta-feira. Para se ter uma ideia, 100 é o pico na escala de popularidade do Google Trends, que filtra as tendências de pesquisa em tempo real.
Se comparada a curva entre a esta semana e sua data de lançamento, há quase nove anos, “Contágio” atingiu seu maior nível de interesse na web desde a estreia, em 2011. Quando levado em conta o quadro comparativo dos últimos cinco anos (2015-2020), o cenário a ascendência é ainda mais íngrime.
Entre os cinco países mais interessados no longa, quatro são asiáticos. A China lidera (100), seguida pela Coreia do Sul (88), com Taiwan em quarto lugar (64) e o Sri Lanka (62) em quinto. O Paraguai aparece como um intruso continental na terceira posição, marcando 80 na curva de popularidade. No ranking, que contémm 69 países, o Brasil surge apenas no 58º lugar (7).
Streaming impulsiona hype?
Ao se olhar para trás, talvez seja difícil identificarmos um caso similar à popularidade tardia de “Contágio”, que conta com a ajuda de uma ferramenta tão importante quanto sites de buscas: o streaming.
Hoje, é mais acessível o caminho a títulos antigos, muitas vezes revisitados, por exemplo, em casos de mortes de atores ou diretores famosos. Talvez seja a primeira oportunidade em que um filme surfa uma onda que não surfou quando lançado graças a um vírus letal. Mas o que teria acontecido, por exemplo, com “Nova York sitiada” se o longa de Edward Zwick tivesse sido rodado na era do streaming?
De 1998 e estrelado por Denzel Washington, a trama de “The Siege” (no original) relata o estado de caos vivido por Nova York após um ataque terrorista em um ônibus no Brooklyn. Controverso e acusado de xenofobia por supostamente criminalizar a população muçulmana, a produção foi um fracasso de bilheteria, com um orçamento de US$ 70 milhões e arrecadação de apenas US$ 44 milhões nos EUA.
No entanto, as similaridades entre os atentados presentes no filme e o ataque às Torres Gêmeas, três anos depois, chamaram a atenção das autoridades americanas.O Pentágono chegou a se reunir por três dias com produtores e roteiristas do longa, logo após o 11 de Setembro.
O encontro foi promovido para traçar planos de prevenção a futuros ataques. Entre os roteiristas, aliás, estava Lawrence Wright, vencedor do Pulitzer de não-ficção em 2007, com “O vulto nas torres”, obra de jornalismo investigativo que se debruça sobre a queda do World Trend Center.